Nate Hammond

— O que é isso? — questiono, balançando a carta que me foi entregue.

— Oras, um médico todo chique não sabe ler? — a mulher de meia-idade debocha, escondendo um sorriso.

O comentário me faz revirar os olhos.

— Mima…

— Nem adianta fazer essa careta, menino Nate. Cara feia para mim é fome!

Miranda May, mais conhecida como Mima, é a única referência materna tanto minha, quanto da minha filha. Ela foi a minha babá quando era garoto e apareceu na porta de casa durante a primeira crise de cólica da Vicky, quando ela tinha apenas algumas semanas de vida.

Nos últimos seis anos, a mulher de temperamento forte, tem sido o meu braço direito, cuidando da minha princesa com o mesmo carinho com que cuidou de mim.

— Não estou fazendo careta, Mima. Só não entendo qual é o problema. Você está cansada? Eu posso contratar mais uma funcionária, você só distribuiria as tarefas e…

— Eu já faço isso com a faxineira, menino.

— Mas podemos contratar uma babá e você apenas supervisiona o trabalho dela.

— Nathaniel Hammond — seu tom de repreensão é nítido. — Você quer contratar alguém para fazer o meu trabalho e continuar me pagando para ver essa pessoa trabalhar?

Encosto na cadeira do meu escritório e suspiro pesado.

— Só não quero que você vá embora, Mima. A Vicky…

— Precisa de uma referência feminina. Eu sei disso, querido. Mas não de uma mulher de 60 anos, como eu. Ela precisa de alguém jovem, que ensine como usar o cabelo e…

— Ela só tem 6 anos! — argumento, indignado. — Daqui a pouco você vai falar que ela precisa de alguém que ensine a usar maquiagem.

— E precisa!

Bufo mais alto ainda.

— Ela não vai ser uma garotinha para sempre, Nate. Está chegando a hora…

— Não mesmo.

— Bom, você querendo ou não, essas coisas vão acontecer, dr. Hammond. Victoria vai crescer e não vou voltar atrás na minha decisão.

Esfrego o rosto, pensando no trabalho impossível que será substituir a boa e velha babá.

— Quanto tempo tenho para encontrar alguém?

— Duas semanas, querido.

— Tão rápido?!

— Se você se apressar, posso acompanhar a nova garota nos primeiros dias. Mas se demorar…

— Por que tão repentinamente, Mima?

— Porque estou velha, cansada e quero aproveitar um pouco os meus netos. Minha filha vai ter o terceiro filho e precisará da minha ajuda.

O motivo é nobre, mas alguma coisa no olhar da mulher que conheço há mais de 30 anos me diz que não está me contando toda a verdade.

— Só isso?

— E não é motivo o suficiente?!

Dou um pequeno sorriso. Ela e Vicky são as únicas pessoas que conseguem me arrancar essas expressões, que me fazem me sentir realmente em casa.

— Vamos sentir sua falta — confesso, falando tanto por mim, quanto pela minha filha.

— E eu a de vocês, querido. Mas chegou a hora.

— A… hora?

— A hora.

— Do quê?

— De seguir em frente, meu menino.

Abro a boca para questionar a que está se referindo, mas a voz da Vicky nos interrompe.

— Mima, posso comer um biscoito?!

— Só depois do jantar, querida!

Em um instante, a mulher que me tirou o peso de criar sozinho a minha filha pelos últimos seis anos sai da minha sala, me deixando com uma pressão no peito.

Nunca pensei sobre esse momento. Jamais cogitei que a Mima não estaria aqui até a Vicky completar 18 anos e ir para a faculdade.

Ela é a única pessoa em quem confio de olhos fechados e não sei se teria conseguido suprir todas as necessidades da minha princesa se não fosse seu apoio certeiro e firme.

Tessa, minha falecida esposa, partiu cedo demais, deixando um buraco tanto no meu peito, quanto nas nossas vidas. Sua ausência fez com que a Vicky e eu fôssemos muito mais próximos, mas também deixou uma ferida aberta que parece nunca cicatrizar.

Agora eu tenho 15 dias para encontrar alguém em quem eu confie o suficiente para cuidar do meu tesouro mais precioso.

Onde vou conseguir uma maldita babá?